sábado, 24 de outubro de 2015

Uma torre de ferros











  

Sim! Eu também gosto muito destes ferros de Paris!
Obrigado Sr. Eiffel!



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sábado, 17 de outubro de 2015

O Homem da Concertina



 

 




















O homem da concertina é Amadeu Magalhães.

O Amadeu é membro dos Realejo, onde também toca gaita de foles, flautas, braguesa, bandolim, e cavaquinho.

Realejo é um grupo de Coimbra que toca música de raiz tradicional portuguesa e europeia. 

Para além do fotografado Amadeu Magalhães, os Realejo contam com o Fernando Meireles (na sanfona, no bandolim e no cavaquinho) com o Jorge Queijo (na percussão) e com a Catarina Moura (na voz). Na viola (ou será guitarra?) dos Realejo já estiveram o Steve Fernandes e o Miguel Veras e no baixo o Fernando Araújo.

Oiçam!

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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Anedota Búlgara


(Contaram-me no fim-de-semana. Não resisti.)


Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se
caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.

Carlos Drummond de Andrade



Não é o angulo reto que me atrai


Não é o ângulo reto que me atrai. 


Nem a linha reta, dura, inflexível,
criada pelo homem.


O que me atrai é a curva livre e sensual.


A curva que encontro nas
montanhas do meu país, no curso sinuoso
dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo
da mulher amada.


De curvas é feito todo o Universo.


O Universo curvo de Einstein.



Poema da Curva - Oscar Niemeyer

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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

a última bilha de gás durou dois meses e três dias


a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra
bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse
nazi,
já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer que a habita
e move,
não me queixo de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
– e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo!


(Herberto Helder, in A Morte sem Mestre; ed. Porto Editora, 2014)
 


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sábado, 3 de outubro de 2015

Sozinhos

Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir.


Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada. É assim:
Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.
- Ronca.
- Não ronco.


- Ele diz que não ronca - comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo.
Ficam os dois sozinhos.
- Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer - diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. - É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
- Humrfm - diz o velho.


Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. As ideias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias ideias e deixado de escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha.
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.
- Rarrá! - diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca! - Rarrá! - diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio - por causa dos roncos - não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes.
É um diálogo sussurrado.
"Estão prontos?"
"Não, acho que ainda não..."
"Então vamos voltar amanhã..."


Texto de Luís Fernando Veríssimo – “Comédias para se ler na escola”


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